Em um breve artigo de opinião publicado no portal do
Diário do Centro do Mundo, a Professora Nathalia Claro Moreira clamava aos “sapos
intelectuais”: “fiquem em suas lagoas”. Ao fim do texto o único pensamento que
consegui ter foi que era um manifesto em favor da morte da Filosofia.
Explico.
O posicionamento da professora parece ser favorável da
ideia de que apenas sujeitos especializados academicamente em um tema podem
refletir publicamente sobre ele. Para falar de História da América? Teria que
ser Leandro Karnal, o qual o Lattes diz que pesquisou sobre isso. Para comentar
sobre Blaise Pascal? Somente tendo o Lattes como o de Luiz Pondé, que informa
uma titulação pesquisando o pensador. Mas atenção! Karnal e Pondé só podem
falar daquilo que estão certificados. Fora disso, devem se calar. Sobre os
assuntos cotidianos, da vida vivida, como “Futebol? Marketing? [...] Budismo?
Jesus? O retorno do KLB?”, a Professora pensa que ou não são motivo de nenhuma
reflexão ou que para refletir sobre eles seria necessário escrever uma
Dissertação de Mestrado ou Tese de Doutorado em curso de Pós-Graduação
certificado pelo MEC.
A Pesquisadora apresenta Karnal e Pondé como
comentadores de Atualidades e escritores de “auto-ajuda”. Para piorar, ainda
desdenha da população em geral. Afinal, para a Professora é triste que os livros
de “Auto-ajuda” de Karnal e Pondé apareçam como os mais comprados pelo público.
Não os vejo dessa forma. Vejo como pensadores com reais esforços Filosóficos.
Filosofia nunca foi currículo Lattes. Apenas a partir da Idade Média que a
Filosofia começa a se tornar um campo institucionalizado, com planos de
carreira. Aos poucos, junto com a fragmentação do conhecimento que divide tudo
em cercanias de saberes (Matemática, História, Sociologia... e também tem
Filosofia), a Filosofia é transformada em uma área de pesquisa. Nunca o foi e,
a meu ver, nunca será.
Não matem a Filosofia, Professores. A Filosofia não
é analisar O Pensamento Onto-historial de Heidegger em Contribuições à
Filosofia. Filosofia é o amor pelo conhecimento da realidade. Sigam o exemplo
dos Filósofos antigos, ou de outros não tão antigos. Afinal, Heidegger não
parecia ser um defensor do pensamento que se prive na pesquisa acadêmica
realizada oficialmente. Ele não se preocupou em participar de uma entrevista
com o monge Maha Mani. Não para discutir sobre sua Tese de Doutorado, mas para
filosofar sobre a realidade.
A Filosofia não é restritiva, pelo contrário. A
pesquisa acadêmica para Dissertações e Teses é. Mas isso não é sinônimo de Filosofia.
Caso contrário, seria necessário criar uma máquina do tempo e avisar aos
Filósofos da Antiguidade, que tratavam sobre todos os assuntos e apresentavam
um modo de viver em totalidade, que eles estavam fazendo Filosofia errado.
A Filosofia que não considera a realidade das coisas
e a vida a ser vivida não é Filosofia. Pode ser pesquisa acadêmica de
uma Faculdade de Filosofia, tentando entender tal conceito e determinado
Filósofo. Mas definitivamente não é Filosofia.
Pelo que parece, o incômodo da Professora emergiu do
artigo de Pondé na Folha (o melhor comentário que vi sobre o artigo pode ser
encontrado no canal Luna ABA do Professor Lucelmo Lacerda). Também vi como
equivocados alguns pensamentos no artigo. E me incomodou – como me incomoda há
bastante tempo – o uso da pseudociência da Psicanálise como ferramenta de entendimento
da realidade (mas isso é muito feito no campo de Humanidades pelo Brasil). No
entanto, não se justifica um posicionamento que clama para os acadêmicos se
importarem e falarem apenas sobre aquilo que academicamente possuem titulação
para fazer. Em minha visão isso é pedir a morte da Filosofia, que já anda ruim
das pernas. O posicionamento da Professora é quase um senso comum que paira no ambiente
acadêmico brasileiro. Só poder falar sobre o tema que pesquisou em uma das
titulações. Isso é algo que não pode ser defendido na Filosofia.
Deve considerar a vida vivida, primeiro a sua própria
e depois a de todos. Afinal, a população compra “auto-ajuda” porque possui
interesse em refletir sobre si mesma e sua atuação no mundo. A maioria dos
vendedores de lojas varejistas, como eu já fui, não estão muito preocupados com
o pensamento Onto-historial de Heidegger. Quando refletem sobre o sentido das
coisas o pensamento de Heidegger pode ajudar, mas ele não é o objetivo final.
Há algum tempo já existem movimentos na academia clamando
um retorno ao conhecimento menos separador. É fundamental, principalmente nas
Faculdades de Filosofia. Sejamos um pouco mais como os Filósofos antigos. Quem
sabe tão filósofos quanto Diógenes de Sínope.
Sapos intelectuais, saiam das suas lagoas! Para que no dia em que nos liguem de uma rede de comunicação perguntando se poderíamos falar sobre a Guerra entre Ucrânia e Rússia, não respondamos indagando se podemos falar sobre um conhecimento especializado. Mas primeiro pensemos sobre a pergunta que nos foi feita. Afinal, o objetivo último não é o pensamento Onto-historial de Heidegger. Mas quem sabe o pensamento Onto-historial de Heidegger nos ajude a refletir sobre a realidade.
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