Os colonizadores puderam ver formigas. Quando entraram em contato com o Meio Ambiente que buscavam dominar, as formigas já estavam muito bem instaladas e organizadas. Um cronista português muito conhecido, chamado Gabriel Soares de Sousa, quando pisou pelas terras brasileiras notou e escreveu sobre a "natureza de certas formigas". Abordou o hábito das "formigas que mais dano fazem", mas também anotou práticas humanas com esses insetos.
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Formigas. 1870. Acervo Mary Evans Picture Library. |
Teve contato com as formigas "Içá", as saúvas fêmeas, e observou suas características e hábitos. Entre suas descrições, deixou registrado que
O cronista Gabriel de Sousa também registra um fato alimentar muito interessante, e até hoje existente, o uso dessas formigas como fonte de alimentação. Relata que os indígenas comiam essas formigas "torradas sobre o fogo". O momento de saborear tais formigas torradas é retratado pelo escrito como um momento de "muita festa".
Não apenas os indígenas seriam apreciadores desse prato, mas "brancos" e "mestiços" que andavam junto deles também elogiavam o gosto, afirmando como muito saboroso. Alguns, ainda segundo o cronista, comparavam as formigas torradas com o sabor das "passas de Alicante", fazendo referência às uvas passas da região de Alicante, na Espanha.
Visivelmente, como exibem as linhas de Gabriel Soares de Sousa, a cozinha indígena conquistou os conquistadores. Europeus e "mestiços" aproveitavam a alimentação preparada com os saberes nativos, comparando-a com suas experiências gustativas europeias. Na boca dos portugueses, o sabor das formigas torradas era reconhecido como o das passas.
No período colonial, a interação alimentar entre nativos e europeus foi, talvez, uma das formas menos violentas de contato entre Europa e América.
Referências:
Imagem: Ants returning to nest. Mesnel (Le Magasin Pittoresque), 1870. Acervo da Mary Evans Picture Library.
SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, p. 273-274, 1851.
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