COP 30 em Belém do Pará, aqui na Amazônia, não serve para nada?

 

Tela de site Agência Pará, publicação sobre projeto do Estado do Pará para Educação Ambiental




Quando a COP 3 foi anunciada em Belém, aqui no Pará, o primeiro pensamento que tive foi "A cidade não tem suporte para um evento desses". Como morador de Ananindeua, cidade colada a Belém, e frequentador da cidade, facilmente se percebe que a capital do Pará terá que mudar muito para ser uma cidade com capacidade, utilitária e de beleza, em receber um evento como o COP 3. Os planos já estão sendo montados. Acredito que a ideia de uma cidade conectada seria o ideal (conectando Belém, por rios e estradas, com as cidades próximas, como Bragança, Barcarena, Marituba, Castanhal, Mosqueiro... Acredito que Ananindeua teria de se reestruturar grandemente para ser uma dessas, e deve!) para conseguir auxiliar no recebimento do evento (o evento de ontem - 26/06/23 - do Governo do Estado mencionou essa estratégia - ver: https://www.youtube.com/watch?v=80oBSZdNnwg). O que seria um ótimo incentivo para algo que já deveria ter um foco bem maior na região há tempos: transporte por vias fluviais.

Em seguida, fiquei refletindo sobre a utilidade prática do evento. Serve para algo? Não estou pensando como alguns comentadores que bradam ser um evento inútil por "Querer dizer o que o Brasil deve fazer com a Amazônia". Creio que é um pensamento de desconhecimento e que não possui a mínima preocupação com - ou entendimento da importância em todos os setores - a questão ambiental. Minha reflexão é outra.

Há algum tempo penso que os eventos internacionais que discutem a questão ambiental não surtem muito efeito prático. Tornam-se apenas discussões sem muita utilidade prática. Existe a possibilidade de países como o Brasil pressionar por investimentos internacionais. Principalmente sendo sede do evento. O fundo prometido para o país não saiu, a expectativa é que venha nas próximas COP ou na COP 30. Caso a COP 30 não resulte em grande aporte de recursos internacionais para o Brasil caminhar para mais sustentabilidade, o campo de pesquisa em Ambiente, Educação Ambiental e Tecnologia Sustentáveis no Pará não se torne referência no Brasil e mundo, a COP se firmará como uma grande inutilidade.

No lugar de metas internacionais, acredito que para países como o Brasil o mais importante são as discussões e atuações regionais e locais. Uma política de Educação Ambiental foi divulgada pelo Governo do Pará em junho de 2023. Ela apresenta soluções regionais e locais muito boas como o Programa Dinheiro na Escola Paraense, com repasse de verbas diretamente para as escolas (o que anularia o discurso de que Educação Ambiental não é realizada na escola por falta de verbas do Governo). Apresenta coisas duvidosas, como a criação de disciplina obrigatória de Educação Ambiental. A Política Nacional de EA proíbe isso. E creio que o incentivo e empenho do Governo deveria ser para a transversalidade da Educação Ambiental e não criação de disciplina específica. A temática ambiental pode e deve estar presente em todas as disciplinas. Nenhum conteúdo seria perdido para isso ser realidade. Os professores precisam de formação continuada que mostre na prática como inserir essa temática em suas aulas. As escolas devem ser orientadas a funcionarem de uma forma mais orgânica, conhecendo seus objetivos (expostos inclusive em seu Projeto Político Pedagógico, que deve ser elaborado democraticamente pela comunidade escolar). A Educação e prática sustentáveis estão sendo fortemente incentivadas com essa Política. 

Eventos municipais que discutam e proponham soluções para a questão ambiental também são fundamentais. Incentivar a mobilização de grupos, como pequenos pelotões, que discutam e proponham dentro da temática é crucial para a realidade de melhorias em nossa relação com o Meio Ambiente e a Natureza. O consumismo deve ser um dos temas principais - como já apresentava Roger Scruton em seu "Filosofia Verde". O consumo é interligado com toda a cadeia de problemáticas ambientais e a maior ferramenta de solução. 

Espera-se investimentos internacionais na região. Mais parcerias entre as Universidades amazônicas e as, principalmente, da Europa e Estados Unidos da América. O desenvolvimento tecnológico sustentável, de floresta em pé, é o futuro que a população do Brasil ainda não consegue ver. A Educação Ambiental pode contribuir para essa percepção. O Brasil pode ser um jogador importante no cenário global no que diz respeito as tecnologias sustentáveis. No entanto, acredito que a coisa começa no regional/local para o global, e não o inverso. Caso desconsiderem isso, esses eventos se tornam inúteis. Que a COP 30 não seja.

Que a COP 30 seja um ponta pé inicial para a devida atenção com o Museu Emilio Goeldi e com propostas como a do Plano Estadual da Bioeconomia do Pará (ver: https://www.semas.pa.gov.br/wp-content/uploads/2022/11/Plano-da-Bioeconomia-vers%C3%A3o-FINAL_01_nov.pdf).

Uma das ideias também poderia ser tornar Belém - Ananindeua deveria seguir a dianteira nisso - uma das cidades mais arborizadas do Brasil. Sem esquecer a questão da violência... Não é possível pensar sustentabilidade sem pensar junto os altos índices de violências. Escrevo isso como alguém que mora em Ananindeua. O que dá algum conhecimento prático de causa.

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