Há cerca de cinco meses o meu feed de notícias do Google Chrome me
sugeriu uma matéria que fez meus olhos saltarem. Sem rodeios o título anunciava,
como uma vizinha que trás as notícias ruins: "Roger Scruton está com
câncer". Talvez a pressa por publicar primeiro, em virtude do impacto que
poderia ter em um país que consome o autor cada vez mais, tenha deixado o
título seco e a matéria curta.
![]() |
Roger Scruton. Fonte: Gazeta do Povo. |
No primeiro momento pensei que era apenas um rumor, afinal nenhum outro veículo de notícias brasileiro havia noticiado o caso. Estranho, principalmente considerando que o filósofo tinha ministrado palestra no Brasil no mês anterior. Nas matérias do Reino Unido e Estados Unidos não encontrei nada na época, além da fonte usada pela matéria brasileira.
Hoje, 13 de Janeiro de 2020, meu feed de notícias do Google Chrome me
sugeriu uma matéria criticando os brasileiros que transformaram Roger Scruton
em "pai de santo" e sugeria a real leitura do autor.
Achei engraçada.
Concordo que mesmo os que estão lendo o filósofo – ou melhor, os que dizem que estão lendo - não estão o entendendo. Talvez de propósito.
Depois de olhar as notícias nacionais mudei a nacionalidade do "Google Notícias" para Reino Unido. Baixando a tela e um título fez meus olhos saltarem novamente. "Filósofo Roger Scuton morre aos 74 anos".
Depois de olhar as notícias nacionais mudei a nacionalidade do "Google Notícias" para Reino Unido. Baixando a tela e um título fez meus olhos saltarem novamente. "Filósofo Roger Scuton morre aos 74 anos".
Triste notícia para iniciar a segunda-feira, que infelizmente confirma a
notícia de meses atrás.
A partir disso vejo o dia de hoje como incentivo para começar a escrever
algo que planejava há algum tempo. Este texto pretende iniciar uma série de publicações
para apresentar contribuições do pensamento de Roger Scruton para as reflexões
dos educadores ambientais sobre a Educação Ambiental.
PENSANDO SERIAMENTE O PLANETA NO PENSAMENTO DE ROGER SCRUTON
A primeira exposição a ser realizada para tratar sobre o pensamento de
Roger Scruton referente às questões ambientais é definir as fontes que serão
utilizadas. Afinal a única forma de entendermos o filósofo é tendo como base
seus escritos e suas falas.
Para minha análise focarei em algumas de suas entrevistas nas quais a
temática ambiental apareceu como tema, artigos do autor que se focam nessa questão
e especialmente no livro “Filosofia Verde: Como pensar seriamente o planeta”.
Livro publicado originalmente em 2011 e que chegou ao Brasil em 2016, com
tradução de Maurício G. Righi pela Editora É Realizações.
Considerando as vendas na Amazon esse não é o livro mais vendido do
autor no Brasil. Fica atrás de títulos como “Conservadorismo”, “Como ser um
conservador”, “O Rosto de Deus” e “Pensadores da Nova Esquerda”.
Esse é o momento que comento um detalhe importante para o pensamento
ambiental do autor: ele se considera um conservador. Não apenas isso. Era, na
verdade continua sendo, o filósofo conservador mais importante da atualidade.
Não conheço muitos de seus escritos, pois meu campo de pesquisa é o ambiental e
os pensamentos de Scruton sobre essa temática é o que se torna importante
para minhas pesquisas.
Com isso ressaltado é importante destacar a leitura errônea da obra do
autor feita por brasileiros. As críticas escritas, em vídeo e comentários de
supostos leitores de “Filosofia Verde” que encontrei mostram que muitos dos
reacionários de direita no Brasil não estão prestando atenção para o montão
amontoado de coisas escritas nos livros lidos. Em muitos momentos os leitores
afirmam que o autor disse algo, porém ele escreve o inverso.
Um desses casos é o consumismo.
Muitos leitores afirmam que Roger Scruton, em Filosofia Verde, confirma
que a ideia de que o consumismo é um dos pontos a ser combatido para uma melhor
intervenção contra os problemas ambientais seria apenas uma “falácia
esquerdista”. Esse erro inclusive é repetido, pasme, na orelha do livro.
O leitor que entrar no conteúdo do texto depois de ter lido a orelha da
versão brasileira já terá iniciado com uma percepção errada do debate proposto
por Scruton. Afinal de contas o consumismo também é apontado pelo autor nesse livro
como um problema. O autor ainda diz mais, afirma que o consumismo é um problema
contra o qual a esquerda e a direita deveriam se unir para combater.
Um grande exemplo de como a leitura de Scruton sobre as questões
ambientais é entendida de forma equivocada por muitos leitores – inclusive de
quem escreveu a orelha do livro (espero realmente que não tenha sido o
tradutor).
Por enquanto paro o texto por aqui. Gostaria de escrever mais, no
entanto esse texto está sendo elaborado no horário de almoço de um estudante do
curso de Licenciatura em História do Módulo Integral. Daqui a minutos terei
uma prova. Ou seja, continuarei depois.
Até mais e obrigado por ter lido até aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário