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A criatura já se deslumbrava com o trono por
dezessete meses e vinte e três dias. Muitos emergiram do fundo do abismo, no
qual espreitavam na escuridão, para com seus braços e com suas mãos levantarem
a criatura até onde hoje ela habita. Vários outros da superfície, por suposto
medo da cor do sangue, utilizaram seus braços e suas mãos, como aqueles do
abismo, para elevar a criatura até onde ela queria habitar.
Agora eles têm sobre si como rei o anjo do
abismo, chamado em hebraico de Abadom, e em grego de Apoliom. Vangloriam-se de
seu mestre.
- Preservá-lo-ei até o fim!
É o grito que alguns ainda não se envergonham
em gritar. Uns tantos do abismo, outros poucos da superfície.
- Eles mentem sobre o mestre! São
profissionais na criação de mentiras!
- Todos os outros têm parte com o inimigo! Apenas
nosso mestre nos salvará!
São essas as mentiras que continuam a repetir
para si mesmos como se verdades fossem. Mas por cima de seus muros, pelas
janelas fechadas ou abertas, nos cômodos de suas casas eles já sabem.
A criatura se clamava como límpida. Nenhuma
sujeira nas solas de seus pés havia. Era mentira. Quando muitos da superfície
notaram, trataram de se arrepender. Mas os do abismo não se importavam. A
criatura os satisfazia. E ainda satisfaz.
Muitas nuvens de chuva pairavam pela cabeça
da criatura. Não eram nuvens comuns de chuva. Aquela água que de lá desmoronaria
não iria alimentar nenhum animal. Nenhuma planta se poria a tentar absorver
qualquer gota que fosse. Mais ácida que o mais ácido dos ácidos.
Queimaria a língua daqueles do abismo,
daqueles da superfície, e também da própria criatura.
- Preservá-lo-ei até o fim!
Dirão ainda muitos, mesmo com suas línguas
latejando de vergonha.
A criatura cria mentiras. Mentiras criaram a
criatura. A criatura se mantém com as mentiras. Mentiras manterão a criatura.
Para os pobres, que da peste padecem, nem
consolar em falsidade a criatura se dispõe. A criatura pedira 30 mil, mas
conseguira 50 mil.
Fogo e Fúria emergem da boca da criatura. Não
é um proletário, daqueles que fazem viver o maquinário. Porém se preocupa
apenas e somente com sua prole.
Os braços que o ergueram aos poucos se
recolhem. Sem o sustento alucinado, que aos poucos se amiúda, a criatura busca
refúgio quase desesperada.
Vêm pelo Sul. Seus ajudantes vêm pelo Sul. Com
a secura como a da garganta de fogo da criatura, com o calor como o dos urros
daqueles do abismo, se construirão as circunstâncias vantajosas para a ajuda
que se aproxima.
O que se espera é o soprar de uma frente fria
para erradicar os ajudantes da criatura. O bater de pequenas asas alguns já
escutam. Virão destruindo plantações. Destruindo como o seu mestre quer
destruir. O anjo do abismo. O rei dos gafanhotos.
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